quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Anima - além do sentido






A alma do mundo, arquétipo do inconsciente coletivo, princípio de vida e inteligência da Natureza, flutua numa psicosfera de sutilezas ancestrais, de fortaleza refratária às ebulições da civilização que estabeleceu o masculino como padrão ótimo no comportamento e na cultura.
A palavra latina “anima” (lê-se ânima), raiz do que hoje designamos “alma”, refere-se originalmente ao princípio que dá movimento ao que é vivo, ou que faz mover. Jung apropriou-se dela, e designou-a ao princípio feminino, ou ainda como signo da própria vida, em contraponto ao “animus”, princípio masculino, arquétipo de significado. Deste modo, temos o esquema psíquico que movimenta os seres, segundo Jung, à sua completude criativa e individual.
Anima – além do sentido, reúne mulheres – artistas visuais – e propõe olhares femininos sobre o feminino. Para lá da auto-indulgência ou do discurso sexista, expõe percepções mais ou menos aproximadas daquilo que convencionamos chamar, cá do mundo masculino, o mistério, o lado escuro da lua, sêxtuplos sentidos, e seus mênstruos. O sentido aqui se refere tanto à percepção quanto ao significado, tanto ao verbo como ao substantivo, e se opõe às certezas na mesma medida em que distribui filigranas, fagulhas anímicas de gestações imagéticas. São gestos, acenos, danças, atitudes estéticas que criam movimento entre as obras, e através delas, aos olhares visitantes. Para além do que sentiram ao criá-las. Para além do que significam.

Renato Torres
Técnico em Gestão Cultural
GTB