quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Maria do Grão



A cidade, imaginada pelas palavras de quem a conta, concorda com suas crianças e seus anciões. Jamais será apenas uma
estrutura de avenidas e habitações, nunca reduzida ao torvelinho de seus acontecimentos cotidianos, e nem ao menos
empresilhada nos pomposos alfinetes dos fatos históricos catalogados. Ítalo Calvino em As Cidades Invisíveis, diz que uma
cidade não conta o seu passado, «ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos
das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras.»
. Esta
escrita do tempo encontra sua tradução no esperanto imaginário de seus artistas, que a sonham e a recontam de diferentes
modos, acrescentando-lhes características e ânimas específicas, conjuradas em suas próprias jornadas desbravadoras, em suas
epifanias particulares.
Desse modo, a reinventam e reconstroem seu passado, porque cada obra de arte é um testemunho de seu tempo, um grão
acrescentado na seara simbólica, ou na ampulheta remanejada. As cidades de Calvino têm nomes de mulher, e Belém só poderia
ter um nome: Maria. Maria do Grão - esta mínima partícula originária, e também a substância feminina que demarca a fluidez
de seu planisfério peninsular.
Nos 395 anos da cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará, a Galeria Theodoro Braga traz a público as histórias
imaginadas de seus viajantes, os artistas que a habitam/habitaram, os que passaram por ela, e que deixaram cá suas impressões.
São fotografias, esculturas, pinturas, desenhos que reencontram ambiências, memórias, paisagens sonhadas, esquinas adivinhadas.
Uma cidade visível revelada através do olhar de quem a imaginou.
Equipe GTB

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